Apesar de nunca ter chegado oficialmente na nossa plataforma (um grande abraço para os brilhantes desenvolvedores de emuladores), Tekken tem cerca de uma dúzia de jogos desde 1994, se contamos as revisões de 3, 5 e 6, mas este seria o sétimo da linha principal, e embora pareça que estamos diante de outra repetição para contar a trágica história sobre Mishima, a realidade é que atrás dos bastidores reformula sua mecânica para se tornar uma fera digna dos mais exigentes torneios de luta.

Embora à primeira vista pareça ser -mais uma vez- um Tekken 3 com gráficos melhores, é somente tendo-o em mãos percebemos que ele se sente bem diferente. Enquanto a série, sempre foi conhecida por sua luta baseada nos contra-ataques, voltado para a astúcia de saber se defender no momento exato para contra-atacar de maneira brutal, Tekken de 2017 incorpora a filosofia de jogos luta modernos, que não só buscam posição como mais competitivos para as comunidades em crescimento, mas também tentam ser mais acessíveis.

Obviamente, isto traz como com Street Fighter V a alegação de uma comunidade que prefere permanecer fechada antes de entrar no elemento de sorte nas lutas, priorizando os anos de prática na inclusão, porém o jogo não foi degradado em nenhum sentido.

A maioria dos personagens que vêm carregando suas almas ao longo de toda a série mantem os mesmos golpes de sempre. Se removermos todas as texturas e os quilos de aberração cromática, e baixarmos a quantidade de polígonos a, por exemplo, Paul Phoenix, teremos praticamente o mesmo personagem que tem recebido golpes desde o primeiro jogo, porém a diferença está na influência de combos.

Tekken 7 premia o jogador ofensivo, porque quem dá o primeiro golpe é o que tem a possibilidade de emendar mais socos ou chutes para obter uma interessante vantagem de entrada, porém, nenhum combo devastador torna-se definitivo tão facilmente. Graças à capacidade de cruzar golpes ao mesmo tempo destacados por uma dramática câmera lenta “close-up”, o castigado pode recuperar o ritmo por milímetros de milissegundos. Isso faz com que até mesmo o tradicional “button-mashing” tenha validez contra uma situação desesperada, e em seguida voltar a encarar o confronto por outro ângulo, talvez mais estratégico.

O movimento no cenário também é fundamental para evitar os golpes mais devastadores. Esta versão incorpora os Rage Arts y Rage Drive. O primeiro é um golpe imparável, imbloqueável em alguns casos, que executa uma cinemática de forma semelhante aos Ultras de Street Fighter ou os X-Ray de Mortal Kombat, e gera danos consideráveis para tentar reverter a luta no último minuto. O segundo permite-lhe executar um movimento semelhante ao Art, mas sem cinemática e dando a possibilidade de encadeamento como a abertura de um combo. Em ambos os casos, a aplicação requer um mínimo de conhecimento de para onde apontar e quais botões deve apertar, permitindo que qualquer jogador possa usar este recurso contra os mais habilidosos.

Talvez essa proposta soe a que o jogo tenha sido levado para o terreno do casual, onde já não importe ser bom para ganhar, mas nada poderia estar mais longe da realidade. Basta ver o enorme número de movimentos e combos listados nas planilhas de cada um dos personagens, como sempre foi tradição na série, para perceber que é preciso um longo tempo para dominá-los completamente, e quem o domine tem muito mais chances de ganhar.

Considerando que existe um total de 36 personagens disponíveis de entrada, sem a necessidade de desbloqueá-los ou ter que gastar qualquer centavo para usá-los, as oportunidades para escolher um principal e dominá-lo para poder ser competitivo, são realmente infinitas. Sendo minimamente conhecedor da série teremos afinidade direta com clássicos como Law, Paul, Hwoarang e Jin, mas também é uma boa oportunidade para conhecer aqueles que foram chegando ao longo dos anos, e o grande design que caracteriza cada um deles.

Ao retocado e melhorado sistema de combate foi acoplado diferentes modos de jogo, que embora se assemelhe ao padrão do que é esperado em jogos de luta em 2017, sabemos que muitos não o fazem corretamente. Sem ir muito longe, Street Fighter V, um ano e meio após seu lançamento, ainda não tem um modo arcade, e metade de seu campo esta por trás do sistema de microtransações.

Em Tekken 7 começamos com todos os personagens à mão, vários sets de variáveis de roupas, e a possibilidade de adquirir todos os cosméticos por um generoso sistema de moeda virtual. Não há necessidade de comprar nada com dinheiro real para ter um gorrinho ou uma saia que gostamos, já que cada luta seja offline ou online nos modos competitivos deixam um montante suculento de créditos a serem aproveitados.

Além do modo arcade e suas variantes como a de conseguir objetos diferentes em cada luta, que ademais se modificam com diferentes perks como certas torres de Mortal Kombat X, esta versão apresenta o obrigatório modo história que, infelizmente, deixa claro que a única capaz de fazer algo digno são os desenvolvedores da NetherRealms, que tanto em seus dois Injustice como nos últimos Mortal Kombat apresentaram grandes campanhas. Tekken 7 é mais do lado de Street Fighter V, com uma história tediosa contada em largos cinemáticos estáticos, com algumas bem renderizadas, e finalmente, lutas de um só round, ou mini-jogos ridículos para vencer vários inimigos genéricos ou disparar armas diferentes. O resultado é quase impossível de digerir, mesmo assentando as bases de um universo unificado com Street Fighter -pela desentendida presença de Akuma-, obrigando aos menos pacientes a informar-se sobre o transfundo assistindo a algum vídeo do YouTube que o resuma. E é tão mal executada que nem todos os personagens participam na trama principal, pelo que tiveram que desenvolver várias sub-campanhas para aqueles que ficavam fora. Definitivamente o esforço para atender às exigências da indústria não foi suficiente para produzir algo digno, demonstrando que não deveriam forçar algo que não é necessário desde o início.

Por sorte, todo o demais lembra aos velhos arcades de luta e o modo on-line atende a expectativa de ter um Tekken bem desenvolvido para lutar com amigos ou estranhos ao redor do mundo, e acima de tudo, parece que o netcode funciona como gostaríamos que fosse em todas as propostas que vem decepcionando ano após ano.

Na parte técnica, o jogo é executado no já estabelecido Unreal Engine 4, e ao contrário de 90% dos jogos que o utilizam, este o faz com um desempenho excepcional. Tekken 7 roda até mesmo nas placas mais precárias de 2 GB vídeo (claro em 720p e todo ao mínimo) com a maior dignidade possível. Os gráficos são notáveis, há detalhe em cada um dos personagens, e a simulação de física na maioria das suas roupas dá o tempero necessário para deslumbrar a interminável quantidade de movimentos que tem cada homem e mulher que aparece em cena. Infelizmente sofre do vício do uso excessivo da aberração cromática, algo que se vê comumente no uso indiscriminado deste motor, mas existem guias para limpar e restaurar o brilho e nitidez para todos os modelos e cenários.

A seção de som termina de construir a experiência arcade com melodias que lembram as mais alucinantes dos salões de arcades do final dos 90, com batidas fortes e rápidas que sempre caracterizaram a série, com muitos graves e toneladas de personalidade, e acompanha alguns efeitos sonoros que também evocam aqueles momentos em que não importava muito o realismo, mas sim o efeito sobre a experiência de jogo. Perdeu-se a arte de chamar a atenção para os diferentes aspectos artísticos deste tipo de jogo, porque os fundamentalistas estão à procura de precisão mecânica e a menor quantidade de coisas possível que distraíam em tela, pelo qual isso acaba sendo uma experiência marcante, que permanece fiel à sua filosofia de décadas atrás.

O legado de uma grande série, e o refinamento de suas mecânicas, está em todo seu melhor neste jogo. Desde o grande elenco de personagens, e seu enorme catálogo de movimentos, passando pelos característicos movimentos de jogos de luta em 3D que chegou para ficar com a premissa que fundou Sega com Virtua Fighter em 1993, juntamente com uma seção visual muito interessante, e com a oferta de uma excelente longevidade graças à sua excelente implementação on-line, a sua extensa lista de personagens, uma campanha (ainda que medíocre) que oferece um pouco mais de informações sobre os acontecimentos, fazem deste um dos mais interessantes fighters para ter na coleção.

Esta avaliação foi realizada com uma cópia de imprensa fornecida por Bandai Namco.

[PT] Tekken 7: Fated Retribution – Review
História50%
Gameplay90%
Gráficos85%
Música e sons 85%
Multiplayer90%
O bom:
  • Enorme elenco de personagens.
  • Refinamento e acessibilidade para uma série de longa duração.
  • Excelente otimização.
O ruim:
  • As alterações podem afetar a comunidade competitiva.
  • História desnecessária e mal executada.
  • Inundação de aberração cromática.
82%Nota Final
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